sábado, 30 de maio de 2009

melhores de 2008 - mc5, the raconteurs, mopho e ramones


a coisa tá difícil. maio está parecendo uma temporada num hospício. muitas coisas (muitas mesmo) pra fazer... resultado: ando sem tempo pra nada. ainda bem que não há um compromisso do FRANCA POTENTE com prazos ou regularidade entre as postagens.

retomando os melhores de 2008, aí vão comentários sobre quatro álbuns.

mc5 - back in the u.s.a. (1970)

não há dúvida que o mc5 é um dos principais expoentes do protopunk no início dos anos 70 e 'back in the u.s.a.' é, por assim dizer, o seu lançamento mais bem acabado (o álbum sucedeu o petardo 'kick out the jams' - lançamento ao vivo de 1969) .

'back...' gira em torno das faixas de abertura e de encerramento do álbum, covers de ícones do rock'n'roll: 'tutti-frutti', de little richard; e 'back in the u.s.a.', de chuck berry. a conclusão óbvia é que o álbum pretende resgatar a simplicidade original, que fez a alegria dos primeiros tempos do rock.

além das duas covers, o álbum tem ainda 9 músicas próprias. com essas composições a banda procurou não apenas resgatar os elementos explicitados nas covers já citadas, mas também dar mais peso e impacto ao som dos pioneiros do gênero. o resultado é que o álbum é um daqueles álbuns perfeitos e à frente do seu tempo. ali, o quinteto de detroit consolidou a antecipação dos elementos essenciais do tal movimento punk.

uma das desvantagens de álbuns com esse é que eles tornam ingrata a tarefa e apontar destaques entre as faixas. de qualquer forma aí vai uma tentativa: 'teenage lust', 'looking at you', 'high school' e 'shakin' street'. mas é claro que é um disco pra ser ouvido de cabo a rabo...

the raconteurs, consolers of the lonely (2008)

em se tratando do raconteurs é importante destacar que a banda não é um mero projeto solo de jack white, mas fruto de uma parceria entre ele e brendan benson, além da cozinha de uma banda chamada the greenhornes. a meu ver, o trampo dos caras é excelente, especialmente, por buscar suas referências numa época que não os hoje incensados anos 80, dos quais todo mundo é fã ultimamente.

um dos poucos álbuns da minha lista efetivamente lançado em 2008. aliás, 'consolers of the lonely' teve até um post exclusivo de dezembro passado. veja aqui.

este é o segundo álbum do raconteurs. nesta empreitada, a liderança de jack white fica muito mais evidente do que na estreia (outro discão, mas bem diferente do seu sucessor). é possível perceber com muito mais clareza o blues, o folk e o hard rock setentista envenenando o som da banda. numa palavra, the raconteurs é rock vintage de primeiríssima linha.

o álbum mescla músicas mais rápidas e baladas. tudo muito bem dosado. muito bem sacado é o uso de metais e piano em algumas faixas. vale muito a pena perceber a versatilidade dos arranjos, sempre muito atentos à pegada rock'n'roll que nunca resvala pro pop óbvio tão comum entre as bandas desta primeira década do século xxi. aí vai mais uma listinha ingrata de prediletas: 'salute your solution', 'old enough', 'the switch and the spur', 'many shades of black', 'five on the five', 'attention', ... e por aí vai.

p.s.: destaque especial para a voz do sr. benson.

the ramones, the end of the century (1980)

álbum básico para qualquer pessoa interessada por rock, 'end of the century' foi lançado em 1980. diz a lenda que a gravação do álbum foi marcada por tumultos e desentendimentos entre membros da banda e phil spector, o produtor da bolacha e ídolo de joey ramone. o clima também esquentou dentro da própria banda e as coisas nunca mais foram as mesmas...

quando comparamos 'end of...' com os lançamentos anteriores, percebemos imediatamente a sonoridade mais pop e até refinamentos em arranjos de algumas músicas. esse requinte, embora tenha ampliado a visibilidade da banda, manteve as vendas em baixa e ainda gerou controvérsia com fãs mais antigos e com a crítica, que torceram o nariz para o som mais limpo.

polêmicas à parte, estamos falando de um baita disco. ali estão registradas algumas músicas que contribuíram para alçar os ramones à categoria de banda clássica. aliás, vale destacar que o tom clean realçou muito bem a simplicidade do som dos caras: as músicas são fáceis, diretas e (por que não?) assobiáveis.

minhas favoritas: 'do you remember rock'n'roll radio?', 'chinese rock', 'baby, i love you', 'i can't make it on time', 'rock'n'roll high school'.

mopho - sine diabolos nullus deus (2004)

a banda alagoana mopho é muitas vezes comparada aos mutantes. a comparação tem lá sua razão de ser, afinal, existem referências comuns facilmente identificáveis. a principal é a psicodelia dos anos 60. mas restringir os alagoanos a um clone dos seus antecessores é, no mínimo, desconhecimento. a meu ver, os mutantes tinham mais referências: a tropicália, a mpb... enquanto o mopho mergulhou fundo na psicodelia pura e simples.

longe de ser um limitador, esse mergulho psicodélico definiu a personalidade da banda e lhe conferiu, por assim dizer, sua originalidade. o mopho é uma banda de outro mundo, de outro tempo. e 'sine diabolos nullus deus' é uma das expressões desse universo criado por joão paulo, principal compositor da banda.

'sine...', cuja capa é uma citação explícita de 'rubber soul' (não é preciso dizer de quem, né?), é uma emocionante viagem ao passado. os efeitos, a construção dos vocais e dos arranjos, as gírias nas letras, tudo no som da banda é datado e já foi visto, mas o curioso é a capacidade de imprimir vigor em algo tão desgastado. chega a ser comovente.

a música dos caras vem do coração e é contundente. os temas são como alucinações sobre o mundo e sobre a natureza humana. há também canções lisérgicas de amor. todas maravilhosas. para mim, 'sine...' é um álbum para sempre. foi um daqueles álbuns que ouvi e acabaram mudando minha percepção sobre o que se espera do rock'n'roll.

por eu ser muito fã do álbum e por ver uma coerência muito grande entre as músicas, nem vou arriscar uma listinha de prediletas. o álbum é excelente e tem que ser ouvido na íntegra.

*.*.*.*

antes de terminar de escrever já tinha percebido que o post ficaria imenso e poderia até tê-lo dividido em dois, mas resolvi manter tudo num só pra ir um pouco contra essa onda da velocidade e fragmentação das informações tão em voga nestes tempos de internet. e já que eu demoro a publicar é legal que os interessados se demorem um pouco na leitura.