domingo, 15 de fevereiro de 2009
'songs from northern britain', teenage fanclub
e dando início aos comentários sobre os álbuns mais marcantes do meu mp3 player (ipod, pra mim, é coisa do futuro...) em 2008, 'songs from northern britain' do teenage fanclub (tfc).
penso que não há necessidade de falar sobre o tfc, uma vez que há um milhão de sites e blogs com biografias da banda e seus membros... de qualquer modo, aí vão duas informações que, aliás, são pouquíssimo técnicas: a) kurt cobain declarou algumas vezes que eles eram a melhor banda do mundo; b) é uma das minhas bandas prediletas de todos os tempos.
'songs from northern britain' foi lançado em 1997 e é um dos grandes momentos da trajetória da banda. não se trata de um álbum inovador, muito pelo contrário. as músicas, de uma maneira mais evidente que em álbuns anteriores, remetem a gêneros bem batidos como o country rock e os anos 60. no entanto, a produção do disco é fantástica. super bem cuidado, é fácil perceber a delicadeza e o detalhamento imprimidos à gravação. os arranjos são perfeitos, os vocais e backing estão fabulosos...
as letras, por sua vez, tratam de assuntos "atípicos" para bandas de rock: amadurecimento, vida adulta feliz, romances bem sucedidos e patriotismo... tudo bem contrário à alardeada rebeldia do rock'n'roll. na verdade, o teenage fanclub é uma banda privilegiadíssima, pois, conta com três compositores fantásticos e que, embora componham separados, conseguem manter uma coesão e identidades incríveis na sonoridade da banda. neste álbum, os três estão inspiradíssimos.
a consistência do álbum é tão grande que fica até difícil escolher uma música de destaque. ou seja, citar as minhas prediletas no álbum é complicado e até meio injusto com as que não forem mencionadas. aí vão: 'ain't that enough', 'start again', 'i don't want control of you' e 'your love is the place where i come from" e 'planets' (já citei quase metade do álbum!).
em resumo, embora eu tenha falado brevemente sobre um álbum específico, o teenage fanclub é uma banda fora do comum e que merece ter toda a sua discografia ouvida por quem se interessa pelo rock britânico de todos os tempos. os caras lançaram outros álbuns considerados fundamentais pela crítica especializada e são reverenciados por artistas respeitadíssimos do grande público.
de uma certa forma, o fato de não terem se tornado uma megabanda capaz de lotar estádios ao redor do mundo foi, a meu ver, algo positivo porque o rock sempre fica meio chato quando fica muito badalado e com muitos holofotes à sua volta.
dica: http://depredando.blogspot.com/2008/09/teenage-fanclub.html
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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
'o primo basílio', de eça de queiróz
"e luísa tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência
superiormente interessante(...)".
trecho de 'o primo basílio', de eça de queiróz
já faz algum tempo que eu estou querendo falar um pouco sobre o eça de queiróz, então decidi escrever alguma coisa sobre um livro específico: 'o primo basílio'. o motivo da escolha é meio prosaico: li apenas dois livros dele até hoje. já que dos dois, 'o primo' é o mais conhecido, não tive muita opção. pretendo ler outros, mas, por enquanto, "foi o que se pôde arranjar"...
antes de mais nada, esclareço que não sou nenhum expert em literatura. também não realizei estudos aprofundados sobre escritor algum, logo, não esperem nada muito científico nas próximas linhas. pra falar a verdade, eu gosto muito de literatura clássica, comecei a cultivar este hobby a uns 276 anos atrás e aí acabo me sentindo meio autorizado a, pelo menos, dar umas dicas sobre o assunto.
"o primo basílio", um dos grandes clássicos do realismo português, foi finalizado em 1878 e é uma crítica à burguesia portuguesa da época. a história, passada basicamente em lisboa, começa em torno de um triângulo amoroso: jorge (devotado esposo que é obrigado a passar uma temporada longe de casa em função do seu trabalho); luísa (a esposa entediada de jorge); e o tal primo que dá título ao livro (o vaidoso e irresponsável basílio é um bon vivant decidido a reconquistar, por mero passatempo, a prima com a qual quase se casara anteriormente).
além do triângulo, há uma personagem que, unanimimente, é central para o desenvolvimento da trama: juliana, a criada de luísa. Ela acumula uma série de características negativas que servem de combustível para o seu comportamento. Juliana possui aspecto deprimente, é filha de mãe solteira, nunca esteve com um homem e vê a velhice se aproximando como mais um fator complicador para sua vida de fracassos e de misérias.
ao observar a patroa (rica, bonita, bem-casada e cobiçada por outros homens), juliana, em sua lógica rancorosa, vê-se como uma pessoa ainda mais injustiçada por todos que a cercam.
o aparecimento de basílio e a retomada do romance com a prima, dá a ela uma possibilidade de redenção. ao conseguir provas materiais da relação clandestina dos dois, juliana passa a extorquir a patroa com o intuito de conseguir sua liberdade financeira e uma consequente aposentadoria tranquila.
basicamente, este é o núcleo central da história, mas é claro que há várias subtramas e vários outros personagens muito bem acabados ao longo de todo o livro. não pretendo entrar em detalhes porque minha idéia é muito mais de deixar a dica do que de estragar a surpresa de um eventual interessado.
destaco também a beleza do texto. muito bem escrito e de uma estrutura impecável. não há uma palavra fora do lugar: forma e conteúdo perfeitos. eça de queiróz possui um domínio absurdo do português. quando se tem contato com a sua obra, por mínimo que seja (como é o meu caso), é fácil entender porque ele é um dos imortais da literatura universal. na verdade, é surpreendente ver a capacidade de alguns escritores em se expressar em descrever situações e emoções.
algo que me chamou muito atenção foi o desfecho do livro. para arrematar a história, eça de queiróz utiliza várias páginas numa narrativa fabulosa na qual ele, pouco a pouco, apresenta o destino funesto de alguns personagens e, por outro lado, a continuidade tranquila e hipócrita da vida levada por outros.
ler é sempre muito bom, mas esse foi um daqueles livros que eu li com uma satisfação acima da média e que me deixou meio triste quando cheguei ao final.
as gravadoras são contra o download de mp3 e eu sou contra o download de livros. é muito desconfortável ler um livro inteiro no computador. eu não consigo... de qualquer modo, fica aqui a dica para quem baixar 'o primo basílio'. é só clicar.
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