sábado, 20 de dezembro de 2008
antes que o diabo saiba que você está morto
cinema. há umas duas semanas, vi um filme bem bacana: 'antes que o diabo saiba que você está morto', contando a história de dois irmãos falidos. Andy, o mais velho (Philip Seymour Hoffman), é um contador viciado em heroína às voltas com uma auditoria no trabalho). Hank (Ethan Hawke) é o irmão caçula, um loser que não tem condições de sequer pagar a pensão alimentícia da filha.
para solucionar seus problemas financeiros, Andy convence Hank a assaltarem a joalheria de seus pais. a idéia básica dele é que por conhecerem os detalhes da rotina do lugar, não haverá problemas e, além do mais, os pais poderão recuperar o prejuízo acionando a seguradora.
a vaca começa a ir pro brejo quando o assalto dá errado e a mãe dos caras morre em conseqüência de um tiro. surge, então, a figura do pai (albert finney) que ao ver a inoperância da polícia, resolve encontrar o assassino de sua esposa.
não vou entrar em mais detalhes para não estragar a diversão dos interessados, mas vale dizer que o roteiro não segue uma cronologia exata e adota o ponto de vista dos irmãos e do pai para revelar as motivações e angústias de cada um dos personagens e também para montar os detalhes do que ocorre antes, durante e depois do assalto frustrado.
o filme é dirigido pelo sr. sidney lumet que, entre outros, dirigiu nada mais nada menos que 'um dia de cão', filmaço dos anos 70 com al pacino no elenco. eis outro filme que recomendo.
vi por aí que 'antes que o diabo...' ganhou prêmios pelo roteiro e por interpretações. considero merecido, pois, todos atuam de forma irrepreensível numa história muito bacana, demonstrando que nem só de bobagens mal contadas vive o cinema americano.
também vi que o titulo tem a ver um brinde irlandês: "que você possa ter comida e prosperidade, uma almofada macia para sua cabeça; que possa passar 40 anos no céu, antes que o diabo saiba que você morreu!".
veja o trailer.
antes que o diabo saiba que você está morto
elenco: philip seymour hoffman, ethan hawke, marisa tomei, albert finney e aleksa palladino.
direção: sidney lumet
gênero: suspense
distribuidora: europa filmes
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terça-feira, 16 de dezembro de 2008
BUSH PARA A POSTERIDADE - As sapatadas do jornalista iraquiano
o texto a seguir foi extraído do Observatório da Imprensa. clique aqui e leia o original. não há dúvida que o episódio foi engraçado, mas não dá pra ignorar o seu significado político...
até qualquer hora!
* * * * *
BUSH PARA A POSTERIDADE
As sapatadas do jornalista iraquiano
Por Fernando Massote em 16/12/2008
George W. Bush disputa um lugar de destaque na história mundial. Não vai ficar contrariado. Será um dos símbolos mais representativos da derrocada moral, política e militar do império americano, o mais sangrento, sem dúvida, da história da humanidade. Ele acaba de conquistar, a poucas semanas do final do seu repudiado mandato, mais pontos para sua vitoriosa corrida para esta posteridade execrada. Foi no Iraque, uma das numerosas tumbas do Império USA, que Bush exibiu o ser sinistro que é. Aparecendo de surpresa em Bagdá, por óbvias razões de segurança, ele lá foi para se despedir do exército ainda sob seu comando.
Nem no menor, mais restrito e vigiado recinto daquele país ocupado e despedaçado, amordaçado e trucidado pela agressão imperialista, o gabinete do premier fantoche Al-Maliki, os serviços de segurança americano e iraquiano conseguiram proteger Bush. Foi aquele o espaço que restou para o jornalista Mountazer AL-Zadi, do canal sunita e antiamericano Al Bagdadia, demonstrar sua ira santa contra o algoz do seu povo.
O encontro chegava ao seu auge, com os dois políticos apertando as mãos sob as luzes dos spots da imprensa, quando o jornalista, para surpresa de todos, se levantou e, jogando os dois sapatos contra Bush, em sinal de desprezo, gritou: "É o beijo de despedida, seu cachorro!". O gesto é considerado, no país, como uma ofensa muito grave.
Zelo e esmero
Retirado do local pelos policiais do Iraque e dos Estados Unidos, o jornalista gritava, na direção de Bush, comunicando o sentido do seu gesto: "Você é responsável pela morte de milhares de iraquianos".
Mesmo cercado, por todos os cantos e recantos, pelos seguranças que o protegem dia e noite, Bush teve, certamente, um dos maiores e indeléveis sustos da sua carreira. Recompondo-se com dificuldade do ultraje tão surpreendente, ele respondeu, acabrunhado: "E aí? O homem jogou os sapatos em mim!". E desconversou: "É uma maneira de chamar a atenção". Ele podia, no entanto, aplacar o seu ânimo ofendido. Sabia que os seus serviços de segurança estavam ali, bem adestrados, para vingá-lo...
E foi mesmo o que parecem ter feito. As agências de comunicação distribuíram a notícia com esta linha final muito sinistra: "Restos de sangue eram visíveis, depois, no local onde o homem foi apanhado pelos agentes de segurança".
Os nossos votos são para que os organismos de direitos humanos se ocupem do caso e procurem saber o destino do corajoso jornalista. A moral da história? Ora, se nem naquele espaço tão restrito e protegido do Iraque há segurança para Bush, como é que o exército norte-americano ainda pensa poder reverter o quadro catastrófico que lembra permanentemente o Vietnam e chegar, ainda, "até a vitória final" da democracia... norte-americana?
O caso incomodou certamente – e muito – as forças que querem uma saída honrosa para a guerra do Iraque. O gesto do jornalista marcou toda a viagem de Bush ao Iraque e ao Afeganistão, atingindo, sem dúvida, até o gradualismo da retirada articulada por Barack Obama. É este o contexto que explica a reação da grande imprensa mundial, que começou logo, em cima do fato, a trabalhar para defender Bush com mais zelo e esmero do que a sua própria segurança, operando em parceria com a do governo iraquiano.
Sapatos e canhões
Os telejornais se apressaram em propalar logo que "o agressor de Bush" teria sido pago para realizar aquele gesto espetacular. Não conseguiram, no entanto, apagar, no comunicado das agências, a nota que dá conta dos sinais de sangue que cobriam o local onde Mountazer AL-Zadi foi apanhado – e de onde foi levado para interrogatórios e análise do seu estado de saúde que poderia estar abalado pela droga.
Que balbúrdia , quanta contradição! Afinal, qual foi a verdadeira causa: o patriotismo, como querem as ruas que exigem a libertação do jornalista; a corrupção, de quem teria comprado o seu gesto; ou a droga? O que parece ser mais verdadeiro é que os sapatos do jornalista pesam mais que todos os canhões de Bush e seus fantoches.
até qualquer hora!
* * * * *
BUSH PARA A POSTERIDADE
As sapatadas do jornalista iraquiano
Por Fernando Massote em 16/12/2008
George W. Bush disputa um lugar de destaque na história mundial. Não vai ficar contrariado. Será um dos símbolos mais representativos da derrocada moral, política e militar do império americano, o mais sangrento, sem dúvida, da história da humanidade. Ele acaba de conquistar, a poucas semanas do final do seu repudiado mandato, mais pontos para sua vitoriosa corrida para esta posteridade execrada. Foi no Iraque, uma das numerosas tumbas do Império USA, que Bush exibiu o ser sinistro que é. Aparecendo de surpresa em Bagdá, por óbvias razões de segurança, ele lá foi para se despedir do exército ainda sob seu comando.
Nem no menor, mais restrito e vigiado recinto daquele país ocupado e despedaçado, amordaçado e trucidado pela agressão imperialista, o gabinete do premier fantoche Al-Maliki, os serviços de segurança americano e iraquiano conseguiram proteger Bush. Foi aquele o espaço que restou para o jornalista Mountazer AL-Zadi, do canal sunita e antiamericano Al Bagdadia, demonstrar sua ira santa contra o algoz do seu povo.
O encontro chegava ao seu auge, com os dois políticos apertando as mãos sob as luzes dos spots da imprensa, quando o jornalista, para surpresa de todos, se levantou e, jogando os dois sapatos contra Bush, em sinal de desprezo, gritou: "É o beijo de despedida, seu cachorro!". O gesto é considerado, no país, como uma ofensa muito grave.
Zelo e esmero
Retirado do local pelos policiais do Iraque e dos Estados Unidos, o jornalista gritava, na direção de Bush, comunicando o sentido do seu gesto: "Você é responsável pela morte de milhares de iraquianos".
Mesmo cercado, por todos os cantos e recantos, pelos seguranças que o protegem dia e noite, Bush teve, certamente, um dos maiores e indeléveis sustos da sua carreira. Recompondo-se com dificuldade do ultraje tão surpreendente, ele respondeu, acabrunhado: "E aí? O homem jogou os sapatos em mim!". E desconversou: "É uma maneira de chamar a atenção". Ele podia, no entanto, aplacar o seu ânimo ofendido. Sabia que os seus serviços de segurança estavam ali, bem adestrados, para vingá-lo...
E foi mesmo o que parecem ter feito. As agências de comunicação distribuíram a notícia com esta linha final muito sinistra: "Restos de sangue eram visíveis, depois, no local onde o homem foi apanhado pelos agentes de segurança".
Os nossos votos são para que os organismos de direitos humanos se ocupem do caso e procurem saber o destino do corajoso jornalista. A moral da história? Ora, se nem naquele espaço tão restrito e protegido do Iraque há segurança para Bush, como é que o exército norte-americano ainda pensa poder reverter o quadro catastrófico que lembra permanentemente o Vietnam e chegar, ainda, "até a vitória final" da democracia... norte-americana?
O caso incomodou certamente – e muito – as forças que querem uma saída honrosa para a guerra do Iraque. O gesto do jornalista marcou toda a viagem de Bush ao Iraque e ao Afeganistão, atingindo, sem dúvida, até o gradualismo da retirada articulada por Barack Obama. É este o contexto que explica a reação da grande imprensa mundial, que começou logo, em cima do fato, a trabalhar para defender Bush com mais zelo e esmero do que a sua própria segurança, operando em parceria com a do governo iraquiano.
Sapatos e canhões
Os telejornais se apressaram em propalar logo que "o agressor de Bush" teria sido pago para realizar aquele gesto espetacular. Não conseguiram, no entanto, apagar, no comunicado das agências, a nota que dá conta dos sinais de sangue que cobriam o local onde Mountazer AL-Zadi foi apanhado – e de onde foi levado para interrogatórios e análise do seu estado de saúde que poderia estar abalado pela droga.
Que balbúrdia , quanta contradição! Afinal, qual foi a verdadeira causa: o patriotismo, como querem as ruas que exigem a libertação do jornalista; a corrupção, de quem teria comprado o seu gesto; ou a droga? O que parece ser mais verdadeiro é que os sapatos do jornalista pesam mais que todos os canhões de Bush e seus fantoches.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
30 anos atrás
eu deveria ter feito este post semana passada, mas como já era de se esperar, os compromissos e o desleixo acabaram atrapalhando...
ainda assim, vale a pena relembrar a data. em 03 de dezembro de 1978, o flamengo conquistou uma de suas vitórias mais memoráveis, num dia em que o time encarnou de maneira especial a raça que sempre lhe foi atribuída. é um daqueles 'jogos para sempre', que será sempre resgatado quando forem falar sobre a época de ouro do futebol.
eu era bem garoto e não lembro da partida. ainda assim, cresci ouvindo histórias sobre esse jogo, sobre o gol do rondinelli, sobre como dois minutos antes ele perdeu uma bola pro roberto dinamite e quase pôs água no chopp rubro-negro...
sinceramente, queria ter estado lá. não pela vitória em cima do vasco, mas para viver toda aquela emoção de participar de um momento único na história do futebol. foi um resultado-chave para o flamengo, a partir do qual se seguiram várias conquistas, cujo ponto culminante foi a vitória sobre o liverpool e o título mundial.
além do vídeo, sugiro que acessem o baú do assaf e confiram uma entrevista com rondinelli (o 'deus da raça' em pessoa) sobre a partida.
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
'consolers of the lonely' para álbum do ano!
li num jornal qualquer que os raconteurs estão concorrendo ao grammy de melhor álbum de rock alternativo. achei bacana. embora eu não dê a menor importância pra qualquer premiação que seja, não dá pra negar que "consolers of the lonely' é um baita disco...
... em resumo, é uma boa desculpa pra postar um vídeo de uma das bandas mais legais da atualidade. acho bem rock, bem orgânico e vintage. muito bom!
dica: consolers of the lonely, the raconteurs
... em resumo, é uma boa desculpa pra postar um vídeo de uma das bandas mais legais da atualidade. acho bem rock, bem orgânico e vintage. muito bom!
dica: consolers of the lonely, the raconteurs
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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
machado de assis: uma referência
no meu penúltimo post, eu havia prometido que o próximo seria sobre rock e, de fato, foi. só que aí (no último) eu falei que o post de rock ainda não era aquele... que confusão danada... o fato é que mais uma vez vou adiar algo que tecnicamente já foi feito (mais confusão desnecessária).
desta vez, o responsável é um senhor muito amigo meu, companheiro de toda uma vida. o nome dele é joaquim maria machado de assis, que nasceu em 21 de junho de 1839 e deixou este mundo há cem anos. estou falando de machado de assis, que, do meu ponto de vista, é o mais genial dos escritores brasileiros e é minha pretensão homenageá-lo aqui.
eu poderia repetir uma série de informações técnicas sobre a vida e a obra do autor, mas seria muito simples e não traria o menor acréscimo ao que tem sido escrito e divulgado nas comemorações desencadeadas pelo centenário de sua morte. ao invés disso, prefiro falar um pouco sobre a origem do meu interesse por literatura e por ele em especial.
a coisa toda começou há uns 653 anos, quando eu ainda era bem criança, lá no nordeste, com 7 ou 8 anos. todo domingo, meu pai ia à feira e me levava pra dar "uma força" nas compras. a recompensa era sempre a mesma: um gibi. lembro que à medida que o fim-de-semana se aproximava, eu ia ficando ansioso porque queria logo pegar minha revistinha nova. sábado à noite, eu pedia que ele não deixasse de me acordar para irmos às compras.
o tempo passou e mais ou menos no final da 4ª série pintaram os primeiros livros. em geral, eram textos da série vaga-lume (quem já leu, sabe do que estou falando) e foi aí que comecei a perder o interesse pelos quadrinhos, mas durante algum tempo li os dois formatos...
acho que no último bimestre da 5ª série, minha professora de português informou que para a avaliação final, leríamos 'memórias póstumas de brás cubas'. gostei da idéia de ler mais um livro, mas achei o título estranhíssimo. não sabia o que significava 'póstumas' e o nome do cara era completamente incomum. 'como alguém pode se chamar brás cubas?'.
foi a própria professora que encomendou os exemplares e lembro perfeitamente o dia em que eles foram distribuídos na sala de aula. eu estudava num colégio jesuíta, de ambiente austero e para evitar bagunça ela chamou um por um até sua mesa e fez a entrega. lembro da capa azulada, a tipografia... comecei a leitura e não entendi de imediato aquela 'dedicatória'. tive que recomeçar a leitura da advertência inicial várias vezes da até entender um pouco da forma e do estilo, totalmente novos para mim.
por causa desse livro, despertei para a leitura dos clássicos da literatura universal e os gibis se tornaram algo cada vez mais esporádico. na verdade, para mim, machado de assis sempre foi literatura universal. li praticamente toda a obra literária dele. digo 'praticamente' porque ainda faltam dois da fase dita romântica: 'a mão e a luva' e 'iaiá garcia'. claro que é só uma questão de tempo. também não li os poemas escritos por ele porque nunca fui fã do gênero. quem sabe um dia...
por outro lado, alguns já li mais de uma vez (mais de duas vezes) e, certamente, lerei ainda outras. são textos fabulosos, escritos com precisão cirúrgica. é interessante ser familiarizado com uma obra e perceber os assuntos recorrentes, o amadurecimento de autor, seus valores e sua visão de mundo, etc. é como ser apresentado a alguém e aos poucos ir se tornando íntimo dessa pessoa.
não quero discutir se capitu realmente traiu bentinho. aliás, em minha opinião, muita gente considera que essa discussão é o ponto central de toda a literatura brasileira. que grande perda de tempo! prefiro alertar sobre alguns temas sempre abordados por machado: as contradições do caráter humano; a velhice e a solidão; a loucura versus a razão; pessismos sobre a condição humana; os hábitos de sua época... e por aí vai.
hoje, vejo que aqueles gibis foram decisivos para as minhas escolhas, para minhas preferências culturais, para a maneira como eu tomo conhecimento das coisas. eu lia histórias como as do surfista prateado, que é um herói solitário e filosófico. fico impressionado quando penso nisso porque são coisas muito remotas e até mesmo infantis, mas que acabaram fazendo toda a diferença, funcionando como um estopim para o meu interesse por livros, por escritores. lamento não ter mais aquele primeiro exemplar, que perdi após algumas mudanças de endereço. ele seria o primeiro da minha pequena coleção. após ele, muitos outros vieram, mas ele continua único em minha lembrança.
no fim das contas, sou muito grato ao meu pai, um homem simples e sem educação formal sólida, por ter despertado em mim o interesse por histórias e pela palavra escrita. sem o incentivo dele, talvez, eu jamais despertasse para a literatura, uma das minhas maiores fontes de diversão e reflexão.
dica: site em homenagem a machado de assis
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