sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

machado de assis: uma referência


no meu penúltimo post, eu havia prometido que o próximo seria sobre rock e, de fato, foi. só que aí (no último) eu falei que o post de rock ainda não era aquele... que confusão danada... o fato é que mais uma vez vou adiar algo que tecnicamente já foi feito (mais confusão desnecessária).

desta vez, o responsável é um senhor muito amigo meu, companheiro de toda uma vida. o nome dele é joaquim maria machado de assis, que nasceu em 21 de junho de 1839 e deixou este mundo há cem anos. estou falando de machado de assis, que, do meu ponto de vista, é o mais genial dos escritores brasileiros e é minha pretensão homenageá-lo aqui.

eu poderia repetir uma série de informações técnicas sobre a vida e a obra do autor, mas seria muito simples e não traria o menor acréscimo ao que tem sido escrito e divulgado nas comemorações desencadeadas pelo centenário de sua morte. ao invés disso, prefiro falar um pouco sobre a origem do meu interesse por literatura e por ele em especial.

a coisa toda começou há uns 653 anos, quando eu ainda era bem criança, lá no nordeste, com 7 ou 8 anos. todo domingo, meu pai ia à feira e me levava pra dar "uma força" nas compras. a recompensa era sempre a mesma: um gibi. lembro que à medida que o fim-de-semana se aproximava, eu ia ficando ansioso porque queria logo pegar minha revistinha nova. sábado à noite, eu pedia que ele não deixasse de me acordar para irmos às compras.

o tempo passou e mais ou menos no final da 4ª série pintaram os primeiros livros. em geral, eram textos da série vaga-lume (quem já leu, sabe do que estou falando) e foi aí que comecei a perder o interesse pelos quadrinhos, mas durante algum tempo li os dois formatos...

acho que no último bimestre da 5ª série, minha professora de português informou que para a avaliação final, leríamos 'memórias póstumas de brás cubas'. gostei da idéia de ler mais um livro, mas achei o título estranhíssimo. não sabia o que significava 'póstumas' e o nome do cara era completamente incomum. 'como alguém pode se chamar brás cubas?'.

foi a própria professora que encomendou os exemplares e lembro perfeitamente o dia em que eles foram distribuídos na sala de aula. eu estudava num colégio jesuíta, de ambiente austero e para evitar bagunça ela chamou um por um até sua mesa e fez a entrega. lembro da capa azulada, a tipografia... comecei a leitura e não entendi de imediato aquela 'dedicatória'. tive que recomeçar a leitura da advertência inicial várias vezes da até entender um pouco da forma e do estilo, totalmente novos para mim.

por causa desse livro, despertei para a leitura dos clássicos da literatura universal e os gibis se tornaram algo cada vez mais esporádico. na verdade, para mim, machado de assis sempre foi literatura universal. li praticamente toda a obra literária dele. digo 'praticamente' porque ainda faltam dois da fase dita romântica: 'a mão e a luva' e 'iaiá garcia'. claro que é só uma questão de tempo. também não li os poemas escritos por ele porque nunca fui fã do gênero. quem sabe um dia...

por outro lado, alguns já li mais de uma vez (mais de duas vezes) e, certamente, lerei ainda outras. são textos fabulosos, escritos com precisão cirúrgica. é interessante ser familiarizado com uma obra e perceber os assuntos recorrentes, o amadurecimento de autor, seus valores e sua visão de mundo, etc. é como ser apresentado a alguém e aos poucos ir se tornando íntimo dessa pessoa.

não quero discutir se capitu realmente traiu bentinho. aliás, em minha opinião, muita gente considera que essa discussão é o ponto central de toda a literatura brasileira. que grande perda de tempo! prefiro alertar sobre alguns temas sempre abordados por machado: as contradições do caráter humano; a velhice e a solidão; a loucura versus a razão; pessismos sobre a condição humana; os hábitos de sua época... e por aí vai.

hoje, vejo que aqueles gibis foram decisivos para as minhas escolhas, para minhas preferências culturais, para a maneira como eu tomo conhecimento das coisas. eu lia histórias como as do surfista prateado, que é um herói solitário e filosófico. fico impressionado quando penso nisso porque são coisas muito remotas e até mesmo infantis, mas que acabaram fazendo toda a diferença, funcionando como um estopim para o meu interesse por livros, por escritores. lamento não ter mais aquele primeiro exemplar, que perdi após algumas mudanças de endereço. ele seria o primeiro da minha pequena coleção. após ele, muitos outros vieram, mas ele continua único em minha lembrança.

no fim das contas, sou muito grato ao meu pai, um homem simples e sem educação formal sólida, por ter despertado em mim o interesse por histórias e pela palavra escrita. sem o incentivo dele, talvez, eu jamais despertasse para a literatura, uma das minhas maiores fontes de diversão e reflexão.

dica: site em homenagem a machado de assis

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